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As faces humanas do aumento alarmante das agressões contra idosos no Brasil

A análise meticulosa desses dados vai além das meras cifras, mergulhando nas histórias individuais dos idosos vulneráveis.

Fábio Wellington de Morais

07 de junho de 2024 às 21:07


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Em um cenário onde cada número é uma história, os registros de agressões contra os idosos no Brasil têm se tornado não apenas estatísticas, mas relatos de vidas marcadas pela violência. Em 2023, o país testemunhou um aumento alarmante de quase 50 mil casos em comparação ao ano anterior, revelando uma realidade que clama por atenção e ação.

Os números, agora envolvidos em um manto de preocupação e urgência, são extraídos da pesquisa "Denúncias de Violência ao Idoso no Período de 2020 a 2023 na Perspectiva Bioética", cujo olhar atento sobre os detalhes revela mais do que gráficos e porcentagens. O estudo, conduzido pelas professoras Alessandra Camacho, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Programa Acadêmico em Ciências do Cuidado da UFF, e Célia Caldas, da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), lançou luz sobre uma questão que transcende números. Nos quatro anos foram registrados 408.395 mil, das quais 21,6% ocorreram em 2020, 19,8% em 2021, 23,5% em 2022 e 35,1% no ano seguinte. 

 
Idoso / Foto: Reprodução

A análise meticulosa desses dados vai além das meras cifras, mergulhando nas histórias individuais dos idosos vulneráveis. Traçar o perfil desses indivíduos significa olhar para além da idade, abrangendo variáveis como região, raça, sexo, nível de instrução e, crucialmente, o contexto em que a violência ocorre.

A coleta dessas informações sensíveis foi realizada com base nas denúncias registradas no Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, entre 2020 e 2023. O aumento repentino de casos em 2023 deixou a professora Alessandra Camacho perplexa, contrastando com suas expectativas de uma possível queda nos índices. Em suas palavras, ao finalizar a coleta de dados, ela recebeu o resultado com "certa perplexidade", destacando o significativo aumento, principalmente em relação ao ano anterior.

Em uma entrevista reveladora à imprensa, Alessandra Camacho compartilhou insights valiosos sobre as descobertas da pesquisa. Ela enfatizou que, embora os registros tenham sido amplamente influenciados pela pandemia de COVID-19, o aumento das denúncias já vinha ocorrendo antes desse período desafiador. A coragem crescente das pessoas em denunciar é apontada como um fator crucial nessa mudança de paradigma. Conscientes da situação, as pessoas estão buscando os meios de denunciar, seja nas delegacias ou na Ouvidoria do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. "A sociedade precisa se conscientizar, e creio que isso está acontecendo", afirmou.

Por trás desses números, estão rostos e histórias que clamam por justiça e proteção. A Região Sudeste desponta como a mais afetada, refletindo não apenas números, mas também a concentração populacional de idosos nessa área. É um lembrete contundente de que essa questão é multifacetada e complexa, exigindo uma abordagem abrangente.

VULNERABILIDADE

A vulnerabilidade dos idosos, especialmente aqueles com 80 anos ou mais, é destacada como um fator crítico. Esses indivíduos, frequentemente marcados por problemas físicos e fragilidades, demandam uma rede de apoio e cuidado mais robusta.

 
Idoso / Foto: Reprodução

Nos relatos de agressões, as mulheres emergem como as mais suscetíveis, uma triste consequência da desigualdade de gênero que persiste mesmo na velhice. A análise também lança luz sobre questões de raça e cor, destacando a necessidade de enfrentar o preconceito e a discriminação que permeiam esses casos.

Os filhos, que deveriam ser fonte de cuidado e proteção, muitas vezes se tornam os agressores, lançando uma sombra sobre o conceito tradicional de família. A maioria dos casos ocorre dentro do ambiente doméstico, revelando um terreno fértil para a violência silenciosa e insidiosa.

RAÇA E COR

A professora chamou atenção para o fato de que, às vezes, quem faz a denúncia, dependendo da circunstância, não consegue evidenciar qual é a raça ou cor da vítima. Sendo que a cor branca foi a mais atingida com o aumenta e a parda ficando em segundo lugar. “Alguns dados ainda são um pouco mascarados por causa das circunstâncias da pessoa que está denunciando. Há uma dificuldade no item não declarado também. Não se pode inferir qualquer tipo em detrimento da raça parda, preta, amarela, indígena porque não se sabe quais são os elementos circunstanciais que estão levando a essa pessoa a não efetivar a denúncia de maneira mais completa.”

MEDIDAS

No entanto, há esperança e ação em meio a essa escuridão. A conscientização crescente sobre o problema está impulsionando iniciativas como o Disque Direitos Humanos - Disque 100 e campanhas de sensibilização promovidas pela Organização Mundial da Saúde. Parcerias entre instituições acadêmicas resultaram na criação de materiais educativos e informativos, visando capacitar a sociedade para reconhecer e combater a violência contra os idosos. 

 
Idoso / Foto: Reprodução

“Políticas de acolhimento, capacitação de profissionais que fazem acolhimento, não somente da área de saúde, mas um policial em uma delegacia, um profissional da área jurídica que está auxiliando no momento de uma denúncia, porque pode ser uma violência patrimonial em que o idoso está pode sofrer dano financeiro.”

Enquanto os números continuam a subir, a necessidade de medidas concretas e políticas públicas eficazes torna-se cada vez mais premente. Mais do que apenas estatísticas, esses são relatos de vidas marcadas pela dor e pelo sofrimento, clamando por justiça, empatia e ação.

Para dar mais visibilidade ao tema, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu junho como mês da conscientização da violência contra a pessoa idosa.

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