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SUS gastou 225 milhões em 10 anos com crianças obesas no Brasil, diz Fiocruz

Além dos custos financeiros, a obesidade infantil está associada a diversos problemas de saúde.

Fábio Wellington de Morais

04 de junho de 2024 às 10:11


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Um estudo recente realizado pelo Instituto Desiderata, em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), revelou dados alarmantes sobre os custos associados à obesidade infantojuvenil para o Sistema Único de Saúde (SUS). Entre os anos de 2013 e 2022, estima-se que essa condição tenha gerado um gasto de aproximadamente R$ 225,7 milhões.

Surpreendentemente, as internações de crianças e adolescentes devido à obesidade como causa primária representaram apenas uma fração desse valor, totalizando cerca de R$ 5,5 milhões. Isso indica que a obesidade raramente é considerada como fator determinante para internações pelos profissionais de saúde.

Raphael Barreto, gerente de Obesidade do Instituto Desiderata, ressaltou a necessidade de ações preventivas urgentes para conter o avanço desse problema de saúde pública. Ele destacou que a obesidade infantojuvenil, uma condição multifatorial, está relacionada não apenas ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, mas também à falta de atividade física e ao aumento do tempo de tela.

 

Criança obesa / Foto: Reprodução


A tendência desses custos é aumentar. A obesidade infantojuvenil deve aumentar bastante na próxima década. A gente precisa de ações atuais para prevenir a obesidade. A obesidade é uma condição multifatorial. A gente costuma atribuir ao consumo de alimentos ultraprocessados o aumento da prevalência dos casos de obesidade. Além disso, a falta de atividade física e o aumento do tempo de tela também contribuem para o excesso de peso, disse Raphael Barreto.

O estudo utilizou dados de sistemas públicos de informação em saúde do SUS, como o Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), para desenvolver uma modelagem econométrica aplicada ao contexto brasileiro. Eduardo Nilson, pesquisador do Nupens/USP e autor do estudo, enfatizou a importância desses métodos avançados para estimar o impacto econômico da obesidade na infância e adolescência.

Além dos custos financeiros, a obesidade infantil está associada a diversos problemas de saúde, como diabetes tipo 2, hipertensão, asma, apneia do sono e distúrbios metabólicos. Mais preocupante ainda é o fato de que a obesidade na infância aumenta significativamente o risco de obesidade na vida adulta, o que por sua vez está ligado ao desenvolvimento de doenças crônicas graves, como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer.

Carolina Rocha, nutricionista e analista de Saúde do Instituto Desiderata, ressaltou a necessidade de fortalecer as políticas de controle e prevenção da obesidade infantojuvenil no Brasil. Isso inclui estratégias de tratamento no SUS e políticas regulatórias que promovam ambientes alimentares mais saudáveis, como a proibição da venda de produtos ultraprocessados em escolas.

Os dados do estudo ecoam as preocupações globais sobre o aumento alarmante da obesidade entre crianças e adolescentes. O Atlas da Obesidade, publicado pela World Obesity Federation (WOF), estima que até 2035 mais de 750 milhões de jovens estarão com excesso de peso em todo o mundo. No Brasil, aproximadamente 31% das crianças e adolescentes atendidos na atenção primária do SUS em 2022 já apresentavam esse problema.

Diante dessas projeções preocupantes, Raphael Barreto enfatizou a importância de ações preventivas e de conscientização sobre os riscos da má alimentação e do consumo excessivo de alimentos ultraprocessados. Ele alertou que, se as tendências atuais persistirem, o país enfrentará uma verdadeira epidemia de doenças crônicas, com milhões de novos casos e mortes evitáveis até 2030.

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