A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quinta-feira (4) o ex-presidente Jair Bolsonaro no âmbito da investigação sobre o desvio e venda de joias recebidas de autoridades estrangeiras durante seu mandato. O relatório parcial da investigação foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que é o relator do caso.
A investigação revelou a existência de uma organização criminosa que desviava e vendia presentes de governos estrangeiros, que deveriam ser incorporados ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) da Presidência da República, conforme as regras do Tribunal de Contas da União (TCU). Esses presentes não poderiam integrar o acervo pessoal de Bolsonaro.
De acordo com as investigações, os desvios começaram em meados de 2022 e se estenderam até o início do ano passado, com as vendas sendo operacionalizadas por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Além de Bolsonaro, a PF indiciou outras 11 pessoas, incluindo Mauro Cid, seu pai, general de Exército Mauro Lourenna Cid, Osmar Crivelatti, Marcelo Câmara, ambos ex-ajudantes de ordens, e Frederick Wasseff, advogado do ex-presidente.
Com o indiciamento, o caso será encaminhado para a Procuradoria-Geral da República, que decidirá se apresentará denúncia ao Supremo Tribunal Federal.
Durante as investigações, a PF descobriu que parte das joias foi transportada em uma mala no avião presidencial. Em um caso específico, o general Mauro Cid recebeu US$ 68 mil pela venda de um relógio Patek Phillipe e um Rolex, com o valor sendo creditado em sua conta bancária. O militar estava lotado no escritório da Apex, em Miami, na época.
Entre os itens desviados estão esculturas folheadas a ouro de um barco e uma palmeira, recebidos por Bolsonaro durante uma viagem ao Bahrein, em 2021.
A defesa de Bolsonaro ainda não se pronunciou. Entretanto, nas redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro criticou o indiciamento do pai e acusou a PF de perseguição, alegando que não houve dano ao erário, pois os presentes foram devolvidos à União.
O advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, que também foi indiciado, emitiu uma nota afirmando que seu indiciamento é ilegal. Segundo ele, tomou conhecimento do caso das joias pela imprensa e, como defensor, orientou a entrega dos itens ao TCU. Wajngarten classificou o pedido de indiciamento pela PF como arbitrário e uma violação de seu direito de trabalhar.